sábado, 18 de abril de 2009

Metade

Que a força do medo que eu tenho
não me impeça de ver o que anseio.
Que a morte de tudo em que acredito
não me tape os ouvido e a boca.
Porque metade de mim é o que grito
mas a outra metade é o silêncio.
Que a música que eu ouço ao longe
seja linda, ainda que triste.
Que a mulher que eu amo
seja para sempre amada
mesmo que distante.
Porque metade de mim é partida
mas a outra metade é saudade.
Que as palavras que eu falo
não sejam ouvidas como prece
nem repetidas com fervor.
Apenas respeitadas
como a única coisa que resta
a um homem inundado de sentimento.
Porque metade de mim é o que ouço
mas a outra metade é o que calo.
Que essa minha vontade de ir embora
se transforme na clama e na paz que eu mereço.
E que essa tensão que me corroe por dentro
seja um dia recompensada.
Porque metade de mim é o que penso
mas a outra metade é um vulcão.
Que o medo da solidão se afaste
e que o convivio comigo mesmo
se torne ao menos suportável.
Que o espelho reflita em meu rosto
um doce sorriso,
que eu me lembro ter dado na infância.
Porque metade de mim é a lembrança do que fui
a outra metade eu não sei.
Que não seja preciso
mais do que uma simples alegria para me fazer aquietar o espirito.
E que o teu silêncio fale cada vez mais.
Porque metade de mim é abrigo
mas a outra metade é cansaço.
Que a arte nos aponte uma resposta
mesmo que ela não saiba.
E que ninguém a tente complicar
porque é preciso simplicidade para faze-la florescer.
Porque metade de mim é platéia
e a outra metade é a canção.
E que minha loucura seja perdoada.
Porque metade de mim é o amor
e a outra metade também.

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